HU de Dourados proíbe acompanhante e pais denunciam falta de assistência

23/06/2020 09h35

reportagem: Miriam Névola

Ingridy está com parto marcado para esta terça-feira Ingridy está com parto marcado para esta terça-feira

O Hospital Universitário de Dourados publicou no último dia 18 uma norma emergencial proibindo acompanhamento à gestantes e puérperas. Várias grávidas, que tem parto previsto no HU demonstraram apreensão com a notícia. Nesta terça-feira nossa reportagem recebeu a notícia de que mulheres que acabaram de parir não estão recebendo apoio necessário devido a pouca quantidade de enfermeiros.

Veja este relato de um pai: "Preciso de ajuda! Estou no hospital HU e tenho informação que não posso entrar. Pois minha esposa veio ganha o bebê. Desde domingo estou aqui do lado de fora. Mas tenho contato com minha esposa que está lá dentro. E ela não tem acompanhamento adequando dos enfermeiros uma vez que ela não pode ter acompanhada por prevenção do local aqui contra o Covid. Eu até entendo o fato de ele não autorizar mas ela teve Cesária e não tem condição. Ela me mandou mensagem a noite toda reclamando de dor e falta de atendimento. Hoje ela tem que se virar sozinha. Pedi no balcão para me comunicar com responsáveis pelo menos por telefone ontem. Entro a chamada em espera e me deixou 5 minutos a toa. Poxa, até fico sem perguntar aqui nos balcões pois eles acham que estamos causando discussão desnecessárias", relatou.

Nossa equipe de reportagem informou a assessoria do HU sobre esta denúncia e recebeu esta resposta: "O HU reconhece que o acompanhante faz falta para a mulher, e que nenhum profissional da assistência substitui a figura do acompanhante, por conta dos vínculos emocionais e afetivos. No entanto, mesmo diante das circunstâncias atuais, todas as gestantes, parturientes e puérperas estão recebendo atendimento. Não há situação de desassistência na maternidade do HU-UFGD. No entanto, se qualquer cidadão se sentir ferido em seus direitos, pode apresentar queixa à Ouvidoria do HU-UFGD, pelo e-mail [email protected]".

A advogada, Ana Pascoal, está entrando com ação coletiva em nome de 12 mulheres que tem parto previsto no HU de Dourados. "Essa proibição é violência obstétrica. Ter acompanhante no parto e pós-parto é direito garantido por lei. Sabemos da dificuldade e necessidade de precaução por causa da pandemia. Mas outros hospitais já adotaram outras medidas que não essa de impedir. A Organização Mundial de Saúde também já se posicionou e trouxe recomendação, como a exigência dos acompanhantes estarem usando equipamentos de proteção. Orçamos e custaria R$36, nenhum acompanhante se nega a usar esses equipamentos. Nenhum acompanhante se nega a fazer exame. Enfim, existem alternativas. O que não podemos é deixar essas mulheres sozinhas num momento tão delicado", explicou a advogada.

Ingridy de Jesus Dias está com parto marcado para esta terça-feira. "Me sinto muito insegura, já é um momento difícil, o parto por si só já dá medo, a pandemia já causa medo e ainda estarei sozinha? E depois que nascer? Estarei operada, quem vai me ajudar a cuidar do bebê?", relatou a gestante. O HU de Dourados emitiu nota ressaltando que a medida foi de urgência e é provisória mas que a proibição está mantida. Veja a nota na íntegra:

NOTA À IMPRENSA

Diante das circunstâncias e contingências geradas pelo contexto da pandemia de Covid-19, considerando todas as especificidades da atenção ao parto e ao nascimento prestada pela maternidade do Hospital Universitário da Universidade Federal da Grande Dourados (HU-UFGD), a gestão desta unidade hospitalar vem a público informar que ESTÁ SUSPENSA A ENTRADA E A PERMANÊNCIA DO ACOMPANHANTE DURANTE A INTERNAÇÃO HOSPITALAR DE GESTANTES, PARTURIENTES E PUÉRPERAS.

Tal medida, em vigor desde a última quinta-feira (18), tem caráter TEMPORÁRIO e EMERGENCIAL diante do momento de ACELERAÇÃO DESCONTROLADA da Covid-19 em Dourados, considerando que:

  • O HU-UFGD é referência na macrorregião para gestação de alto risco, UTI neonatal, UCI neonatal, UTI pediátrica, e possui porta de urgência e emergência na linha materno-infantil, , atendendo a demanda de 33 municípios;

  • A maternidade do HU-UFGD é a única com atendimento SUS no município de Dourados;

  • A maternidade do HU-UFGD atua acima da capacidade, enfrentando frequentemente a situação de superlotação (mesmo fora do contingenciamento da pandemia), perfazendo um total de atendimento em torno de 350 a 400 procedimentos obstétricos por mês;

  • O HU-UFGD é referência para o atendimento dos casos de Covid-19, ofertando leitos clínicos e de UTI em ala restrita, porém no mesmo prédio em que funciona a maternidade;

  • Dourados é hoje o município com mais alta taxa de contaminação do covid-19, apresentando rápido e crescente número de casos, que já ultrapassam 1.800 confirmados;

  • A presença de acompanhantes implica a dispensação extra de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), aumentando despesas e o consumo desses insumos imprescindíveis à segurança da assistência

Por esses motivos, o Comitê e o Subcomitê de Gerenciamento de Crises, instituídos para o enfrentamento à pandemia, combate e prevenção à disseminação do covid-19, optou pela medida de suspensão temporária dos acompanhantes de gestantes, parturientes e puérperas, visando a proteção dos pacientes e profissionais de saúde no ambiente hospitalar.

Dourados, 22 de junho de 2020.

Unidade de Comunicação Superintendência do HU-UFGD

Envie seu Comentário